quarta-feira, 31 de março de 2010
Afonso Costa
Após finalizar o secundário, ingressou no curso da Faculdade de Direito, na Universidade de Coimbra. Mais tarde viria a leccionar Economia Política e organização Judiciária nesta mesma faculdade. Foi aqui, enquanto estudava na Universidade, que Afonso Costa descobriu a política. Tornou-se membro do PRP (Partido Republicano Português) e como político foi um bom orador e dinamizador, apesar de criticado e caricaturado nos jornais.
Casou cedo, com Alzira de Barros Mendes de Abreu, e apenas um ano depois do casamento teve um filho, Sebastião, o primeiro de mais três, Maria Emília, Afonso e Fernando. Apesar de ter muito pouco tempo para a família devido à política, Afonso Costa mantinha uma estreita ligação com ela.
Afonso Costa viajou imenso. Esteve na Suíça, em França e em Espanha. Em 1905 passou um tempo na Serra da Estrela, lugar que adorava, a fim de se recuperar da tuberculose que o atacara.
Após o Cinco de Outubro de 1910, Afonso Costa torna-se ministro da Justiça e, nessa qualidade, tomou decisões que revolucionaram a sociedade da época:
- Restabeleceu a liberdade de imprensa;
- Legalizou o divórcio;
- Estabeleceu o registo civil obrigatório;
- Laicizou o Estado - lei de separação da Igreja e do Estado -, medida muito contestada pelo Clero.
Assim que Sidónio Pais chegou ao poder, Afonso Costa é afastado do governo. Esteve preso ,durante três meses, no Forte da Graça em Elvas. Pouco depois estabeleceu um consultório de advogado em Paris. Em França substituiu Egas Moniz na Conferência da Paz. Dá inúmeras entrevistas e mantêm-se em febril actividade ao serviço da república como diplomata.
Na sequência golpe militar de 28 de Maio de 1926,exilou-se em França onde estabeleceu um escritório de advocacia que funcionaria como quartel-general da resistência ao Estado Novo.
Afonso Costa morreu no dia 11 de Maio de 1937, em Paris, vítima de uma doença súbita.
Bibliografia:
Vieira, Joaquim - Fotobiografias do século XX : Afonso Costa; Lisboa; Círculo de Leitores, (s.d.)
A instrução pública na Mealhada nos inícios do século XX
Até 1913, a “instrução” cruzava domínios de vários ministérios, mas a República que sempre procurara promover o desenvolvimento do ensino primário como um dos seus grandes “sonhos” criou novamente o Ministério da Instrução Pública. Será com o Estado Novo, em 1936, que a designação passa para Ministério da Educação Nacional.
Desde a implantação do regime liberal em Portugal, em 1834, que algumas elites defendiam a necessidade de uma instrução primária generalizada, mas a população de forma genérica permanecia indiferente, quando não hostil a estes avanços. Só quando o crescimento urbano e industrial se acentua é que algumas franjas populacionais sentem a necessidade de mais formação nas primeiras letras. Iniciam-se então cursos de primeiras letras em clubes e associações mutualistas, em regime nocturno ou fora do horário laboral.
Em 1890 o número de professores primários existentes andaria perto dos 4000, em 1910 não chegava aos 6000.Havia ainda as escolas particulares, em número bastante significativo, mas com bastante menos alunos que as públicas.
No concelho da Mealhada, o surto de desenvolvimento surge com a construção da linha de caminho de ferro na segunda metade do século XIX (1861). No Portugal – Dicionário Histórico, vol. IV, dirigido por Esteves Pereira e Guilherme Rodrigues, datado de 1909, assinala-se que a posição “importantíssima, cortada a meio pelo caminho de ferro e pela estrada real, em vasta e fértil planície, e no centro da região vinícola da Bairrada, tem prosperado muito. Os banhos do Luso e as contínuas digressões à serra do Bussaco, que pertencem ao concelho e ficam próximas, têm concorrido muito para o seu desenvolvimento”. Falava-se de desenvolvimento económico, não de desenvolvimento humano e social.
Porquê comemorar a República?
Oficialmente, as comemorações do I Centenário da República decorrerão entre 31 de Janeiro e 5 de Outubro de 2010, prolongando-se, com a realização de acções pontuais, até à data do centenário da Primeira Constituição republicana (1911). A Comissão Nacional para as Comemorações do Centenário da República estabelece, no seu enunciado, que cabe também às instituições do sistema educativo “ assumirem um papel muito preponderante […], devendo as iniciativas a promover no âmbito do Programa das Comemorações privilegiar as componentes educativa e pedagógica da celebração da implantação da República e da evocação dos valores republicanos, envolvendo professores, pais e alunos.”
A evidência da efeméride, como não podia deixar de ser, vai trazer a sua habitual profusão de eventos. E, seguramente, haverá eventos e discursos para todos os gostos, com diferentes tonalidades e motivações divergentes (políticas, ideológicas, éticas). Por isso, ocorre-nos relembrar as sábias palavras de António Barreto, orador convidado para as comemorações do Dia de Portugal, de Camões e das Comunidades, em 2009:
“ Os Estados gostam de comemorar e de se comemorar. Nem sempre sabem associar os povos a tal gesto. Por vezes, quando o fazem, é de modo desajeitado. “As festas decretadas, impostas por lei, nunca se tornam populares”, disse também Eça de Queirós. Tinha razão. […]
Comemora-se para criar ou reforçar a unidade. Para afirmar a continuidade. Para reinterpretar o passado. Para utilizar a História a favor do presente. Para invocar um herói que nos dê coesão. Para renovar a legitimidade histórica. São, podem ser, objectivos decentes. Se soubermos resistir à tentação de nos apropriarmos do passado e dos heróis, a fim de desculpar as deficiências contemporâneas.
Não é possível passar este dia sem olharmos para nós. Mas podemos fazê-lo com consciência. E simplicidade […] É a pensar nessas gerações [futuras] que devemos aproveitar uma comemoração […] para melhor ligar o passado com o futuro.”
Em tempos de "crises" de valores e de referências, estas comemorações nacionais servem para relembrar o passado, que, pelo seu valor simbólico, permite consolidar a nossa memória colectiva e a nossa identidade nacional. Mas, sobretudo, devem proporcionar uma reflexão crítica sobre o presente para desbravar caminhos para uma República que respeite e cumpra, efectivamente, o seu ideário e os seus valores .
Uma República da dignidade, da liberdade, da justiça, da equidade, da solidariedade.